sábado, 4 de abril de 2009

Mapeamento das Minas de Aguá de Quitáuna






PROJETO Semana Das Água de Osasco, pesquisa nos arredores da EE Profª Heloisa Assumpção na área de Quitauna / Vila Militar e KM 18

Foram entrevistados 4 (quatro) antigos moradores: Sr. Mário Simões; Sr. Adilson Cintra Mateus; Sr. Silvano Mendes Pereira e o Sr. Odair Paixão



Entrevistado: Sr. Mário Simões (23/02/2006):
“Meu pai e minha mãe eram de São Paulo. Mas ela tinha bastante parente aqui e acabou gostando daqui e vindo morar para cá. Meu pai fundou o bar em 1955 [Bar dos Simões]. Assim, nasci em Osasco no Hospital das Damas. Tenho 49 anos e moro no mesmo lugar até hoje, na Av. dos Autonomistas, n.º 6095 que antes se chamava Estrada de Itú. O bairro de Quitaúna era uma aldeia que depois passou a ser um bairro de Osasco. Minha casa é perto da escola Heloísa Assumpção, onde estudei. Ingressei lá no mesmo ano em que foi inaugurada em 1965. Lembro, quando criança, de brincarmos em minas d’água por aqui. Tinha uma mina grande que a gente chamava de “Stand” que era uma espécie de lago. Foi fechada quando construíram a “Cidade das Flores” e agora fizeram um parque ecológico. Parece que agora a prefeitura reativou e fez um lago, um dia desses vi até uma garça lá. Lembro que essa água do “Stand” teve uma época de falta de água que o pessoal chegou a usar, mas não sei se foi para beber ou lavar roupa.
Tinha também outra mina que a gente chamava de “Aguadinha”. Ficava entre a Rua General Florêncio e a Rua Newton Estilac Leal, perto da Vila Militar . Esse “Aguadinha” foi aterrado. Tinha também o ribeirão carapicuibano que dividia Osasco com Quitaúna. Nesses lugares todos a gente brincava, porque a água era limpinha e rasa, batia na cintura. Um outro que a gente também chamava de ribeirão era formado por um córrego que vinha da Cidade das Flores e fazia uma espécie de “Y” com outro que chegava ali perto de um lugar que chamávamos de “Fazenda Velha”, atual "Cirino", então emendava ali e seguia junto. Ali tinha peixe pequeno que a molecada pescava com peneira. Lembro que atrás da escola tinha um olho d’água , assim como em muitos lugares próximos dela. Ali na General Florêncio, naquele terreno na esquina, onde a empresa Garcia teve uma metalúrgica. Tinha um outro na entrada do “municipal” que era um campo de futebol. Justamente esses dois olhos d’água, um que vinha da Rua General Florêncio e outro do campo de futebol, vinham na direção do que a gente chamava de “Aguadinha”. Acho que mínimo deve ser algum lençol freático, já que aqui brotava água facilmente em várias casas da Autonomistas. Quando eu era criança, quase todas as casas aqui, de um lado e do outro, tinha um poço. Lembro uma vez quando o Rio Tietê beirava a linha do trem, acho que devia ser 1968, eu peguei uma latinha comecei a cavar e depois de uns 30 cm minava água. Acredito que nessa aérea devia ser muito fértil em água. Aconteceu recentemente naquele lugar que um predinho está sendo construído na Comandante Sampaio, de verter água quando abriram para o fazer o alicerce. Dentro do quartel havia uns lagos que foram aterrados para fazer o Rodoanel. Lá nos fundos da empresa Hoechst tem até hoje um lago. A gente entrava pela estação de Quitaúna. Mas ali a molecada pequena não brincava, era muito perigoso. Inclusive, tive um conhecido que morreu lá. Então sempre teve água por aqui. Quando foram construir o posto de gasolina aqui pertinho da escola, na avenida dos Autonomistas e foram rebaixar o piso para deixar no nível da rua, começou a verter água, daí tiveram que fazer uma canalização que entra para dentro do solo. Ali na divisa de Osasco com Carapicuiba, onde é hoje o porto de areia tinha um lago azul, a água era realmente azulzinha. Para chegar ali, a gente atravessava o Rio Tietê para depois chegar no lago. Depois o Rio Tietê foi cortado e jogado para o outro lado do lago. Agora fizeram o Paturis, um lago na divisa de Osasco com Carapicuiba, que na minha época era um brejo e tinha aquela planta chamada Taboa. O prefeito, limpou, escavou e fez o lago. Acho que se não houvesse um olho d’água não daria para fazer o lago.”


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Entrevistado: Sr. Adilson Cintra Mateus (24/02/2006):
“Moro aqui em frente à Escola Heloísa Assumpção há 46 anos. Estudei nessa escola de 67 até mais menos 74 ou 75. Lembro desde quando era criança de ver mina d’água dentro na escola. Ali perto da quadra, vivia encharcado, então já havia uma tendência de minar água. Havia uma outra, onde está esse sobrado amarelo em frente a escola. Nós brincávamos e bebíamos muito dessa água.
Havia muito poço na Avenida dos Autonomistas e era raso, bastava 1 m. Tem até hoje uma outra mina aqui encima no terreno do quartel. Essa era uma mina que chamava bastante atenção porque era uma coisa lúdica. Para se chegar até ela, atravessamos uma mata, então era uma aventura se deslocar até ali. Entre nós falávamos ”vamos brincar na mina!!”. Era uma época boa. Brincávamos de carrinho de rolimã, empinávamos pipa aqui nesta praça em frente à escola e todo mundo se conhecia”.



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Entrevistado: Sr. Silvano Mendes Pereira (24/02/2006):
“Moro aqui nas proximidades da escola há 50 anos. Vim de Minas Gerais com uns 23 anos e comprei esse terreno em 1956, mesmo ano em que me mudei para cá com minha esposa. Aqui não tinha nada, só mato. A estrada era de terra. Tinha uma escolinha ali no Alto de Quitaúna que era um barracão de madeira que foi o primeiro lugar em que meus filhos estudaram. Depois os meninos vieram estudar para cá no “Sampaio” e depois no “Heloísa Assumpção”. Nessa época, eu pegava água para construir a casa aqui nesse terreno do quartel. Nós abrimos um caminhozinho e pegava água ali, também tomava banho e bebia água. A criançada ia junto brincar lá e minha mulher também ia para lavar roupa porque não tinha água encanada. Só parou depois quando eu abri um poço e meu cunhado abriu outro. Com o tempo a água foi estragando, chegou a dar formigueiro. Teve uma época que faltou água para todo mundo aqui. Eu peguei uma caixa d’água e levamos lá na mina, fiz um encanamento e então a gente conseguia encher a caixa e usava a água. Também chegou a vir muita gente com tambor de plástico. Aquela água socorreu muita gente. Tinha também uma mina que tinha uma água que era uma maravilha, ali do outro do terreno do quartel, na Rua Edgar de Oliveira com a Rua Jeguié e Rua Francisco Scambati. A água era muito boa!”

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Entrevistado: Sr. Odair Paixão (24/02/2006):
“Nasci aqui, em 1951, e sempre morei moro aqui. Sobre as minas de água tenho uma vaga lembrança, mas por ter acompanhado o crescimento do bairro, eu sabia onde minava água. Ali na Escola Heloísa Assumpção, no canto da quadra tinha uma mina que vazava água direto e na frente também, onde hoje tem aquela praça. Ali foi um campo de futebol e era cheio de pontos que vertia água. Aqui nesse terreno em frente que é do quartel tem uma mina que atravessa a rua por baixo e vai para o esgoto. Lembro que a água das minas era muito usada para matar a sede de animais. Tinha uma turma que vinha e colocava os cavalos ali naquele lugar que hoje é a escola. Ali, isso mais ou menos em 64 era um pasto, um matagal danado e tinha um senhor lá do Km 18 que a gente chamava de João Carroceiro que vinha trazer os cavalos deles aqui para pastar. A escola foi inaugurada pelo Ademar de Barros quando era governador do estado de São Paulo. Não tinha aquele prédio da secretaria e foi ali que o helicóptero desceu , e nós, a criançada fomos ver. A gente nunca tinha visto um helicóptero. Teve até uma placa de inauguração ali no pátio, onde fica a cantina. Ali na quadra, nos cantos, sempre estava úmido. Na frente deste terreno, onde foi construída a escola tinha um campo de futebol. Ali também tinha bastante nascente de água. A gente sempre brincava e escorregava muito, porque a areia ficava lisa com a água. Acho que aquela água vinha do terreno da escola em direção a esse lugar que hoje é a praça. Para nosso consumo, fizemos um poço, então não usava aquela água que minava. O nosso poço ficava onde está a pia da cozinha. Nessa época não tinha chuveiro, a gente usava um balde com furos e parecia um chuveiro que a gente enchia com essa água do poço e tomava banho. Já a água da mina do terreno do quartel era boa antes de ser contaminada. Não havia esse muro e ali o pessoal tinha construído naquela época um tanque para lavar roupa. Mas ainda dá para entrar nesse terreno, tem um portão na parte alta do terreno, onde tem uma estação de rádio do quartel. Tem até um senhor que faz uma plantação de mandioca ali perto da nascente. Nós vimos crescer toda essa região, como a Castelo [Rodovia Castelo Branco] que foi feita mais ou menos em 67, lembro de ver as explosões com dinamite para tirar as pedras do lugar, do outro da linha do trem era o porto de areia “Fuad Auada” que teve uma enchente em 66 e o rio transbordou para lá. O rio passava aqui embaixo, mas desviaram por causa da represa. E vimos tudo isso como aquelas fontes de água. Na escola sempre tinha aquela escorrendo e onde é atualmente o Geodésico, tinha uma corrente de água tão forte que fazia uma represa, hoje tem um posto de saúde lá. Inclusive, no próprio Geodésico tem uma nascente que corre para cá. Acho o progresso bom mas sem estragar a natureza.”

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